Escola Waldir Garcia: “O conhecimento traz mais convivência, mais amor e mudança”
Por William Nunes
Como a presença de estudantes estrangeiros foi capaz de melhorar a relação de respeito entre alunos, professores e funcionários de uma escola pública de Manaus? A Escola Municipal Professor Waldir Garcia (AM) acolhe, atualmente, cerca de 30 estudantes que vieram de outros países, dentre eles haitianos, venezuelanos e até canadenses. O contato com a diversidade e diferentes culturas trouxeram lições valiosas para todos sobre a importância da empatia na educação.
No início, quando as crianças estrangeiras chegavam à EM Professor Waldir Garcia, elas não costumavam ser chamadas pelo nome e não gostavam do uso de termos que as generalizam, como ‘haitiano’. “Hoje elas não são mais chamadas dessa maneira, mas sim pelo próprio nome. Existe um respeito muito grande entre as crianças e elas trabalham com tanta naturalidade umas com as outras, que a inclusão é absorvida e trabalhada pelos estudantes de forma muito natural”, diz Lúcia Cristina Santos, diretora da escola.
A escola começou a receber estudantes imigrantes após o terremoto no Haiti, em 2010. A princípio, os jovens eram encaminhados para a Igreja de São Geraldo, que fica localizada na mesma região da escola, no bairro de São Geraldo. A igreja conta com uma creche que abriga crianças de 0 a 3 anos, mas após essa idade elas precisavam ser encaminhadas para outro lugar. Foi então que o padre Waldeci contatou a Escola Waldir Garcia para auxílio. “Como já tínhamos alunos nossos que ficavam no contraturno para as oficinas, aceitamos receber as crianças a partir de 4 anos. Elas vinham, almoçavam e ficavam até o final do dia”, conta Lúcia.
O Amazonas é o 3º estado do Brasil com o maior número de pedidos de refúgio de imigrantes. Fonte: Ministério da Justiça
Um dos primeiros passos para acolher os estudantes estrangeiros foi não olhar para a língua como uma barreira, mas como uma forma de valorização da diversidade cultural. Outro desafio foi a questão da alimentação. “Precisávamos entender quais comidas eles não comiam e quais eram os seus hábitos alimentares. Para isso tivemos que conhecer a história do país e da cultura deles para ir se adequando e aprendendo”.
Para conhecer melhor toda a riqueza culinária que co-existia na escola, surgiu o projeto “Temperos e Saberes”, no qual a comunidade escolar apresentava para todos uma pequena amostra dos pratos principais de onde vinham. Os pais dos estudantes estrangeiros também passaram a se envolver com a escola por meio do CEFA, o Coletivo Escola Família do Amazonas. A mãe Judith Orinel veio para ensinar à escola como se fazia a Sopa Haitiana, também conhecida como Sopa de Jerimun, um símbolo de resistência do seu país de origem.
“A sopa de Jerimun é uma comida que a gente faz todo dia 1º de janeiro. Porque num tempo passado, o povo escravizado não podia comer essa sopa. [Os colonos franceses] achavam a sopa tão gostosa e saborosa, que quem era escravizado não podia comer. Daí no dia da independência os povos negros ficaram com a receita da sopa como uma lembrança desse tempo”, conta Judith.
Através da filosofia e das artes, a professora Katia Regina é quem coordena os projetos voltados para a integração entre os estudantes imigrantes e os brasileiros. Além do “Temperos e Saberes”, suas aulas trazem toda a bagagem multicultural que cada um carrega como uma forma de aprendizagem. “Uma vez fizemos um estudo sobre o Haiti e exploramos a localização, o mapa, o brasão, a história e a geografia política, o cotidiano da população, como era o país antes e depois do terremoto e as questões de envolvimento humanitário da ONU”, conta Katia.
O Teatro da Pluralidade também foi uma das ações realizadas para valorizar a diversidade de nacionalidades na EM Professor Waldir Garcia. A peça foi apresentada no Teatro Amazonas, um dos mais clássicos do Brasil e cartão postal da cidade. “Ensaiamos intensivamente com todos. Houve um envolvimento muito grande dos estudantes, inclusive na criação dos figurinos. Teve criança que dançou, encenou, dramatizou e até alguns que deram relatos sobre sua vinda para o Brasil e porque vieram para cá”, conta a professora.
Ela diz que o que mais a marcou diante dos projetos voltados para a diversidade cultural foi que os estudantes estrangeiros se sentiram, de fato, mais valorizados. “Eu percebi que com todo esse movimento, eles se tornaram mais naturais, mais receptivos e mais participativos na escola. Quando a pessoa começa a te tratar com valor, você começa a ver o sorriso no rosto dessas pessoas. Elas começam a mostrar realmente o que tem de valioso dentro delas, tanto nas crianças quanto nos pais. O conhecimento traz mais convivência, mais amor e mais mudança”, diz a professora.
INGREDIENTES
1 kg de Acém bovino cortado em cubos
1/2 limão
Sal
Azeite
Pimenta do reino
Água (suficiente para cobrir a carne)
2 kg de abóbora cortada em cubos pequenos
1 cebola pequena cortada em cubos
Cebolinha verde picada
4 dentes de alho amassados
1 alho-poró picado
Salsa picada
Tomilho fresco picado
1 maço de espinafre
1 pimentão verde picado
3 talos de aipo picado
300g de repolho verde picado
6 batatas cortadas em rodelas grandes
3 cenouras cortadas em 4 partes
1/2 colher de chá de noz-moscada
1 colher de chá de tabasco
200g de aletria (pode ser substituída por macarrão)
MODO DE PREPARO
Temperar a carne com sal, pimenta do reino, cebola, salsa, cebolinha, alho, tomilho e limão. Deixar marinar por uma noite na geladeira.
Cozinhar a abóbora em pouca água e fazer um purê.
Retirar a carne da marinada e reservar a marinada.
Refogar a carne em uma panela com azeite.
Cobrir com água e deixar cozinhar até ficar macia.
Acrescentar a marinada, o alho-poró, o pimentão, o aipo, a batata, a cenoura e o repolho, deixando cozinhar por mais 10 minutos em fogo brando.
Acrescentar o aletria e o purê de abóbora.
Agregar o tabasco e a noz-moscada e acertar a água e o sal
Sirva com pão.
A Escola Municipal Professor Waldir Garcia é uma das três escolas apresentadas no primeiro episódio da série ‘Corações e mentes, escolas que transformam’, dirigida por Cacau Rhoden. Organize uma exibição pública e gratuita deste episódio pela plataforma Videocamp.
Foto de capa: Maria Farinha Filmes