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“Dificuldades existem em qualquer ação educativa que busca sair da zona de conforto”

“Dificuldades existem em qualquer ação educativa que busca sair da zona de conforto”

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Por Raphael Preto

Trabalhar em sala de aula competências como empatia, protagonismo, trabalho em equipe e criatividade é fundamental para estimular o senso de cooperação e de coletividade dos jovens. Essa é a opinião das educadoras Veraildes Gomes e Rosa Janaina Queiróz, que, neste ano, passaram a atuar como assessoras pedagógicas na Superintendência da Educação Profissional e Tecnológica do Estado da Bahia (SUPROT).

No dia 5 de junho, elas participaram de uma roda de conversa realizada durante o Virtual Educa, um dos maiores eventos mundiais sobre inovação e tecnologia aplicadas à educação, que teve a sua edição de 2018 realizada em Salvador, na Bahia. Durante a conversa, aconteceu o lançamento do material Educação Transformadora nos Territórios de Identidade da Bahia, que relata como foram as jornadas de educação transformadora realizadas em 2017 numa parceria do programa Escolas Transformadoras com a SUPROT (baixe o material gratuitamente aqui).

Além das educadoras, estiveram no debate e no lançamento do material o cocoordenador do programa Escolas Transformadoras, Antonio Lovato; o professor e assessor pedagógico da SUPROT, Wilson de Sá; e o Superintendente da Educação Profissional e Tecnológica da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, Durval Libânio.

Para Durval, essa parceria com as Escolas Transformadoras tem como missão reforçar o vínculo entre escolas, estudantes e comunidade. “É preciso fazer uma educação diferente, que fuja dos padrões até então estabelecidos. Não é possível falar de uma educação transformadora se a escola se distancia de sua realidade”, disse. “Para que a escola e a sala de aula tenham sentido, é necessário compreender o território em que elas estão inseridas. O conteúdo trabalhado na escola deve refletir as demandas sociais, a identidade e o dia dia dos estudantes. Precisamos de escolas com alma”, concluiu.

A educadora Rosa Janaina Queiróz defendeu a necessidade de as escolas estarem sempre em diálogo sobre as dificuldades em seus territórios, para que, juntas, possam buscar meios para solucioná-las. “Escolas precisam estar dispostas a auxiliar uma a outra. E dentro de uma perspectiva de uma educação transformadora, é necessário ouvir o que os estudantes e os professores têm a dizer. Eles devem ser escutados, verdadeiramente ouvidos, pois só assim poderemos transformar a educação.”

Antonio Lovato ressaltou a importância do trabalho coletivo na construção dessas jornadas, que recebeu professores, diretores e técnicos de escolas de Educação Profissional dos 27 Territórios de Identidade da Bahia. “Esses encontros colaboraram mais para ‘desformar’ do que para ‘formar’ educadores. Quisemos ajudar a desconstruir algumas ideias e a criar um novo terreno de possibilidades junto a todos os envolvidos. Chamamos as escolas para proporem soluções e serem protagonistas das transformações em seus territórios.”

Veraildes Gomes e Rosa Janaina Queiroz participaram ativamente dessas jornadas, quando ainda atuavam em salas de aula no Estado da Bahia. Para detalhar mais como foi essa experiência, o programa Escolas Transformadoras as entrevistou por telefone. A seguir, elas relatam os primeiros frutos e as reflexões provocadas por essa parceria.

Clique nas abas azuis para ler mais.

1. Como foram as jornadas de educação transformadora para vocês? Quais impactos elas trouxeram ao seu trabalho?

Rosa Janaina: Durante as jornadas, nós estávamos ainda em sala de aula. Então foi um processo de crescimento que não se restringiu aos educadores, mas que também ecoou na formação dos estudantes e no fortalecimento da comunidade.

Percebemos que competências como protagonismo, empatia, criatividade e trabalho em equipe estão diretamente associadas ao projeto de vida e com o mundo do trabalho, componentes curriculares que compõem os estudos da formação profissional e tecnológica. Precisamos trabalhar essas questões no âmbito escolar e continuar a construir, junto com os estudantes, a identidade, o reconhecimento e o pertencimento a seus territórios, proporcionando desenvolvimento de vida e, consequentemente, desenvolvimento social, profissional e econômico.

Veraildes Gomes: As jornadas também nos ajudaram a ampliar o olhar sobre a importância de considerar o ser humano de modo integral, como um todo. Isso também faz parte do processo de ensino e aprendizagem.

Além disso, pudemos conhecer outras escolas e diagnosticar como muitos problemas são comuns a todas elas. Tanto questões positivas quanto negativas se repetem muito. Como, por exemplo, a falta de estágio para o estudante que está finalizando o curso técnico. Olhando para esse problema, começamos a pensar em soluções. A primeira coisa que fizemos foi conversar com o aluno: como ele se sentia? Por que ele não conseguia realizar o estágio? A partir do entendimento dessas questões, passamos a levantar estratégias para solucioná-las — sempre em diálogo e no coletivo.

2. Vocês poderiam dar um exemplo de como é possível trabalhar essas competências na escola? Nas escolas na Bahia em que vocês atuavam, por exemplo, há iniciativas que incentivam o protagonismo dos estudantes?

Rosa Janaina: Acredito que o protagonismo dentro de uma unidade escolar pode ser mantido por meio da gestão democrática. Ela é um dos elementos fundamentais ao processo educativo de uma instituição. Essa forma de gestão é vista como uma possibilidade para desmontar relações de mando e de submissão, fazendo surgir dentro da escola (e para fora dela) o sujeito coletivo que decide, que age e que pode atuar na transformação social.

Uma gestão que pretenda superar a ordem autoritária na sociedade precisa propor uma organização pautada em bases democráticas que se fundamentam em competências como protagonismo. Para isto, faz-se necessário que todos os envolvidos na comunidade escolar tenham domínio sobre essas competências e possam participar das decisões que dizem respeito à organização e ao funcionamento da escola.

3. Durante as jornadas de educação transformadora vocês tiveram contato com as dificuldades e os desafios pelos quais as escolas da comunidade ativadora do programa Escolas Transformadoras passam. Como esses relatos afetam vocês? Como esses desafios podem ajudar no processo de transformação de uma escola?

Rosa Janaina: As dificuldades existem em qualquer ação que se pretende sair da zona de conforto. Sucessos e insucessos são inerentes a qualquer processo. Dialogar com outras escolas sobre os problemas encontrados em suas unidades escolares serve como impulso para mobilizar estratégias e solucionar desafios e dificuldades, além de inspirar e fortalecer a reflexão. Os exemplos trazidos por escolas como o SERTA e a EEEP Alan Pinho Tabosa ajudam a ampliar o leque de possibilidades, apresentam caminhos que podem conduzir à transformação e nos auxiliam, por vezes, a antecipar problemas.

4. Como assessoras da Secretaria da Educação da Bahia, vocês saberiam dizer quais são, hoje, os maiores desafios da Educação Profissional do Estado?

Rosa Janaina: Percebo como um grande desafio para a Educação Profissional a formação de profissionais técnicos que tenham como diferencial o desenvolvimento do perfil cooperativo, sem perder o espírito empreendedor. Um perfil humanizado de trabalhador que tem em sua identidade cultural elemento para embasar o seu potencial criativo.

A responsabilidade dos Centros EPTEC (Escola Profissionalizante Técnica) é enorme se considerarmos que os territórios com maior nível de qualificação e formação de capital humano são regiões empreendedoras em potencial. Destaco, assim, a importância de que em cada território seja utilizado todo o seu potencial de criação de um ambiente de conhecimento, reconhecimento e inovação produtiva local, em detrimento de manter-se em situação de espera de intervenções e investimentos unicamente externos.

Confira no vídeo os depoimentos dos profissionais sobre o que é uma educação transformadora!

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