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CMEI Hermann Gmeiner: uma escola da infância que transforma vidas e corações

CMEI Hermann Gmeiner: uma escola da infância que transforma vidas e corações

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Por Zilene Trovão*

A gestora Zilene Trovão, do CMEI Hermann Gmeiner, conta para nós como foi a sua participação junto à comunidade no processo de construção da escola

Localizada em uma área periférica de Manaus, o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Hermann Gmeiner funciona há 20 anos com Educação Infantil. A escola surgiu com a finalidade de atender crianças em situações de risco social que residem no ONG Aldeia S.O.S Infantil Manaus e os bairros adjacentes.

Em 2011, assumi o cargo de Pedagoga nessa escola e, a princípio, fiquei negativamente impactada com o ensino dali. Quando cheguei, a primeira orientação que recebi dos meus colegas foi a respeito do método e da prática conteudista da escola, que utilizava apostilas desde o Maternal III – para crianças de 4 e 5 anos de idade –, além da prática de pregar cartazes com as sílabas simples nas paredes das salas de aula. Era notória a insatisfação dos professores. Os mesmos falavam de exaustão, outros demonstravam estar desacreditados com a educação oferecida. Naquela época, a Hermann era uma escola pequena, que tinha um alto índice de evasão, e uma das maiores dificuldade dos educadores era manter os alunos interessados na escola.

O espaço físico da instituição é amplo, com área gramada e arborizada. Lembro que fiquei encantada na primeira vez que o vi, imaginando que ele era explorado pelos professores e pelas crianças. Mas fui percebendo que apenas duas professoras desenvolviam um trabalho diferenciado naquele local, e, em seus relatos, elas me contavam que, há alguns anos, uma pedagoga chamada Sônia Peixoto havia trabalhado na escola orientando a equipe a trabalhar com a primeira infância, embasando-se nas diretrizes e parâmetros educacionais voltados para a Educação Infantil. Fiquei inspirada ao ouvir essas histórias, mas era difícil dialogar sobre mudanças com toda a equipe, uma vez que os educadores estavam desestimulados e acostumados com a prática adotada. Diante desse cenário, acabei me acomodando e fui me adaptando a essa maneira de trabalhar.

Até que em 2015 uma representante do Coletivo Escola Família Amazonas (CEFA), a pedagoga e mãe Ana Gouvêa Bocchini, fez uma visita à escola e nos apresentou uma proposta sobre Educação Integral. Este foi um primeiro momento de reflexão e conhecimento, embora tenha imaginado que transformações não seriam possíveis. Cheguei a resistir e a me inquietar, como a maioria dos professores.

Mas, depois, iniciou-se por parte da equipe escolar um processo de estudos e aprofundamentos sobre Educação Integral e Escola Democrática, buscando refletir em cima da prática de ensino que ora desenvolvíamos, e que nem sempre priorizava os eixos das brincadeiras, interações e o protagonismo da criança.

Como gestora, precisei planejar e prever várias etapas para esse processo, com visitas em outras cidades para conhecer experiências transformadoras e inovadoras; realização de estudos com o grupo de trabalho da Secretaria Municipal da Educação de Manaus, sob a orientação de Pilar Lacerda, da Fundação SM; além de participação em seminários, congressos, cursos e conferências.

Sabemos que o primeiro passo foi dado e essa construção é longa. A mudança, a priori, começa de dentro de cada educador. Estamos desconstruindo posturas e concepções, e uma delas é bem significativa para a Educação Infantil, que é a luta para sairmos do sistema de apostilamento, o qual está sendo substituído por atividades experienciais na cozinha e no quintal da escola, implantação e implementação de espaços de aprendizagem, pesquisas educativas com materiais da natureza e tecnológicas, e ressignificação das brincadeiras e interações.

Assim, as crianças estão saindo da “caixa”, pois, antes, passavam quatro horas dentro da sala de aula, sendo “alfabetizadas”. Essa nova abordagem da escola está servindo de inspiração e referência para estudos em universidades, seminários, e principalmente, em escolas municipais que também querem transformar seus currículos e sua forma de se relacionar com os estudantes.

O processo de transformação da nossa escola recebeu, neste mês, o reconhecimento do programa Escolas Transformadoras, iniciativa que, no Brasil, é correalizada pela Ashoka e pelo Instituto Alana. Passar a integrar essa rede nos deixa felizes, com o sentimento de pertencimento a um grupo que acredita na transformação da sociedade e na resistência, fortalecendo e engrandecendo ainda mais a equipe, nessa luta pela valorização e respeito pela criança e pela qualidade da educação pública.

* Zilene Trovão é Gestora do Centro Municipal de Educação Infantil Hermann Gmeiner, graduada em Pedagogia, especialista em Gestão Escolar.

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