CIEJA Campo Limpo comemora 20 anos construindo pontes entre a escola e a comunidade
Por Raphael Preto
Reconhecida como escola transformadora pela Ashoka e pelo Alana em 2016, o CIEJA Campo Limpo, localizado na zona sul de São Paulo (SP), tem como principal objetivo ser um espaço acolhedor e de fortalecimento da comunidade. Liderada pela diretora Eda Luiz, a escola sempre manteve suas portas abertas para quem quisesse entrar. E, no seu aniversário, essa prática não poderia ser diferente. No último dia 10 de maio, a escola, que surgiu com a proposta de atender pessoas excluídas da educação, comemorou seu 20º aniversário com rodas de conversa, debates, apresentações musicais e saraus, fortalecendo ainda mais os vínculos no território e as potências de sua comunidade.
Professores, estudantes e parceiros se reuniram para acompanhar uma série de atividades, entre elas o lançamento do livro “O ser e o agir transformador: para mudar a conversa sobre educação”, publicação do programa Escolas Transformadoras que propõe um diálogo com pessoas que protagonizam transformações na escola e na sociedade (baixe gratuitamente aqui). A roda de conversa contou com a participação do cocoordenador do programa, Antônio Lovato; do secretário municipal de Educação Alexandre Schneider; além da equipe da escola, representada pela diretora Eda Luiz e pelo professor Diego Garcia.
Durante o debate, Lovato afirmou que o livro do programa tem por objetivo não apenas enaltecer escolas que fazem grandes transformações na educação, mas também destacar suas trajetórias e dificuldades. “É fundamental democratizarmos esse saber”, afirmou Lovato. O secretário Schneider relembrou o dia em que conheceu a instituição. “Eu tinha acabado de assumir a secretaria, e havia rumores de que a escola iria fechar. A comunidade evidentemente foi contra, daí marcamos uma reunião. Hoje, há uma lei específica que garante o funcionamento do CIEJA”, explicou.
O ambiente na escola é de pluralidade, com jovens, adultos e estudantes com deficiência frequentando as salas de ensino regular. O professor e alfabetizador Robson de Oliveira enxerga vantagens pedagógicas no CIEJA Campo Limpo pelo fato de os alunos de diferentes idades se misturarem em vários agrupamentos. A instituição não adota a divisão por turmas ou séries, por isso a troca de experiências entre gerações acaba sendo de grande valor ao aprendizado. “Existe aqui dentro uma empatia muito grande entre os estudantes, já que os mais jovens percebem que os mais velhos também foram excluídos do processo educacional”, comentou o professor.
A estudante Mayza Borges começou seus estudos no CIEJA aos 35 anos de idade. Ela conheceu a instituição por indicação de uma vizinha, matriculando-se ali em março deste ano. “Achei que seria mais difícil. Mas a forma como somos recepcionados faz tudo ficar mais fácil.”
O CIEJA Campo Limpo também atua fortemente na área da inclusão. Atualmente, dos cerca de dois mil alunos da instituição, 200 têm algum tipo de deficiência. Para o professor Diego Garcia, os processos de inclusão dependem da participação de todos – professores, direção, estudantes e comunidade – e da superação de diversas barreiras sociais e físicas. “A melhor maneira de aprender a fazer inclusão é na prática. É preciso se debruçar sobre as questões pertinentes. Recentemente, a gente fez diversas modificações na arquitetura da escola para permitir a circulação dos cadeirantes. Removemos uma escada e colocamos uma rampa móvel em uma sala de aula que não tinha acesso”, explicou o professor de geografia.
Para Gabriel Skuara, professor da área de linguagens e códigos, ser educador no CIEJA também representa uma grande possibilidade de aprendizado. “Aqui temos mais formação e preparo do que tivemos na universidade”, disse ele, que está na escola há 16 anos.