Escola Nossa Senhora do Carmo (PB)
Nós formamos alunos para eles serem e estarem felizes em todos os lugares que estão ou que vão ocupar.”
Leila Coelho
Líder da escola
A Nossa Senhora do Carmo, mais conhecida como Escola do Carmelo, foi criada em 2005, inicialmente atuando com Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2007, passou a funcionar em um prédio próprio, construído em parceria com os Irmãos Maristas e com a Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC).
A escola está localizada na área rural de Bananeiras (PB) e atende mais de 18 comunidades ao redor. Idealizada por Madre Terezinha do Carmelo Sagrado Coração de Jesus e Madre Tereza, a instituição funcionava anteriormente na casa de um lavrador, onde havia uma sala de alfabetização de adultos.
Entre as paredes de um local aparentemente tradicional, com algumas salas e pouca área ao ar livre, a escola se transforma e se reinventa a todo instante, pois possui uma equipe de educadores comprometidos com a educação e a transformação das pessoas. Com um currículo inserido de forma transdisciplinar, a escola valoriza o trabalho em equipe e o protagonismo, não só dos educandos, mas também dos educadores e da comunidade que atende.
A escola tem uma proposta de educação popular e humanizada, trabalhando com outras dimensões do ser humano além da cognitiva, e está centrada em valores humanos de dignidade, respeito, fraternidade e solidariedade. Inspirada na obra de Paulo Freire, a escola pretende reverter a lógica da educação bancária e garantir uma educação de qualidade para todos, principalmente àqueles que não tiveram oportunidades.
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A Nossa Senhora do Carmo é uma Escola Transformadora em diversos aspectos. Além de sua concepção de educação libertária, popular, integral e humanizada, ela transformou seu currículo, seu espaço e suas relações para transformar a vida da comunidade. Sem recursos financeiros, os membros da unidade escolar resistem a cada ano por amor ao que fazem. Os princípios de amor, fraternidade, solidariedade e acolhimento, fortalecidos também pela espiritualidade, envolvem a escola e as pessoas, evidenciando a potência de um trabalho centrado nesses valores, para além dos conteúdos. Os estudantes possuem grande autonomia para escolher seus projetos e temas de estudo. Juntos ao educador, encontram os caminhos para o próprio “aprender a aprender”, sem desconsiderar as diretrizes oficiais.
Todos os funcionários da escola são considerados educadores, inclusive os estudantes. Por isso, são responsáveis pelos processos educativos. Os educadores possuem uma escuta atenta às crianças e à valorização de seus interesses na proposta pedagógica. Essa é uma escola composta de uma “equipe de equipes”, onde as crianças também formam equipes.
Para Leila Coelho, líder da escola, trabalhar da forma que fazem, individualizando o ensino de cada aluno, é muito mais trabalhoso para o educador. “Em vez de prepararem um material para 30 crianças e jovens, os educadores preparam um material para cada um. Mas se você perguntar a eles se querem voltar à forma tradicional e menos trabalhosa de ‘ensinar’, todos vão dizer que não”, ressalta Leila.
Alguns exemplos ilustram como a empatia, a cooperação e o protagonismo estão presentes no espaço e no dia a dia da escola.
Os educandos da Nossa Senhora do Carmo não são divididos em séries, mas, sim, em nucleações. A nucleação 1 corresponde à educação infantil e é a fase de iniciação da criança no espaço escolar, da adaptação, socialização e assimilação dos valores e práticas; a nucleação 2 corresponde ao ciclo de alfabetização (1º, 2º e 3º anos) do ensino fundamental; a nucleação 3, ao 4º e 5º anos do ensino fundamental; já a nucleação 4 é quando ocorre o aprofundamento do processo de aprendizagem, nos anos finais do ensino fundamental. Essa estrutura permite que alunos de diferentes idades estudem juntos, enriquecendo o processo de aprendizagem pela diversidade e favorecendo as relações e o trabalho em equipe.
A escola trabalha por projetos desde 2015, inspirada por ações semelhantes do Projeto Âncora (SP). Os roteiros de aprendizagem são organizados a partir do interesse e curiosidade do educando sobre um assunto qualquer. Até a nucleação 2, os temas são coletivos. Nas nucleações 3 e 4, os alunos também decidem como vão se organizar, se individual ou coletivamente. O tutor, junto ao estudante, é responsável por criar um roteiro de aprendizagem, que abarque alguns conceitos e conteúdos curriculares. Há também um roteiro complementar com duração de 15 dias. No final desse processo, é feita a apresentação do tema estudado. Os estudantes, além de serem protagonistas de sua própria aprendizagem, têm espaço para atuar e interferir no meio em que vivem. A diretora, Leila Coelho, cita a autonomia como elemento importante na escolha dos alunos: “Nada pode ser imposto. Tudo parte deles”, diz.
A Nossa Senhora do Carmo possui comitês organizados pelos estudantes, segundo suas necessidades e da comunidade escolar. Uma vez por semana, os membros dos comitês se reúnem para tomar as decisões a eles atribuídas. Os comitês organizados em 2016 foram: comitê da espiritualidade, comitê de recepção e eventos, comitê do esporte, comitê do sarau literário e comitê de jovens inventores. Um educando de cada comitê forma o colegiado estudantil, que se reúne em assembleia com os demais estudantes, docentes e gestores para compartilhar, criticar e propor novos caminhos.
Entre as ações que sustentam o modelo de educação democrática e participativa estão as assembleias, de autoria dos alunos: encontros mensais de toda a comunidade escolar para discutir problemas, soluções, proposições e elogios. Esse é um espaço bem importante, que decide sobre qualquer assunto que permeie o ambiente escolar.
Assim, a Escola Nossa Senhora do Carmo parte da reflexão sobre práticas, para, a partir delas, dialogar sobre o ‘ato-fato’ e buscar uma educação coletiva, cujo primeiro passo seja o coração da pessoa humana.