CMEI Hermann Gmeiner (AM)

CMEI Hermann Gmeiner (AM)

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Primeiro precisamos transformar a nós mesmos, para depois conseguir transformar a escola.”

Paula Vasconcelos
Professora

O Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Hermann Gmeiner é uma escola pública da cidade de Manaus (AM) que fica localizada em terreno amplo e arborizado da ONG Aldeias Infantis SOS de Manaus, alugado pela Prefeitura Municipal, junto a outras duas escolas com as quais divide alguns espaços. A escola está situada em área periférica da cidade, atendendo crianças de nove bairros da região, a maioria oriunda de famílias de baixa renda, além de outras da própria ONG.

Com o apoio do Coletivo Escola Família Amazonas (CEFA), movimento da sociedade civil engajado na luta por uma educação pública de qualidade, a escola iniciou em 2016 um processo de transformação em seu projeto político-pedagógico, afastando-se do ensino tradicional. Antes, a escola usava muito pouco seus espaços amplos e bosques, e o processo de alfabetização iniciava-se muito cedo, por meio do uso de sistemas apostilados. Após muita reflexão sobre o currículo da escola, tais materiais deixaram de ser utilizados, pois percebeu-se o excessivo direcionamento das atividades para as crianças e educadores com pouca liberdade de trabalho. Hoje, as propostas pedagógicas são desenvolvidas pelos próprios educadores da escola, norteadas por um documento construído por especialistas e pela Secretaria Municipal de Educação. Com a nova diretriz, há uma grande troca de saberes, resultados e referências entre os educadores, coordenadores e com a diretoria, que desafiam-se a criar “um novo formato de educação infantil”.

A mudança no projeto político-pedagógico da escola, orientada pela concepção de Educação Integral e Escola Democrática, já renderam muitos frutos. O índice de evasão da escola, por exemplo, foi diminuindo ano a ano. Em 2014, a escola quase chegou a fechar por falta de aluno. “Havia uma quantidade grande de estudantes que matriculavam-se e depois deixavam de ir à escola ao longo do ano. Isso não acontece mais. As crianças sentem-se pertencentes à instituição”, conta a diretora Zilene Maia Trovão. Outra transformação resultante da nova proposta é o nítido aumento da disposição dos professores e funcionários, em função do fato da escola ter se tornado um ambiente mais fértil e acolhedor. “Eles adoecem menos, e também faltam menos”, explica a diretora.

A professora Paula Vasconcelos vê com entusiasmo esse novo momento, inclusive em sua trajetória pessoal. “Durante esse percurso, eu me transformei como profissional, mas também em todas as áreas da minha vida. Como a gente vai parar algo que nos faz bem?”, questiona.

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1. Por que a CMEI Hermann Gmeiner é uma Escola Transformadora?

Tanto a equipe gestora quanto os professores do CMEI Hermann Gmeiner acreditam que a educação é o caminho da transformação. A escola está de portas abertas para acolher a comunidade e a diversidade, e defende que a educação pública de qualidade é um direito de todos. A nova proposta da escola prioriza a importância da escuta e do protagonismo das crianças, especialmente por meio das múltiplas linguagens e formas de ser e estar dos pequenos, os quais constroem o processo educativo junto a outros atores.

As crianças escolhem temas de interesse para estudar e compartilhar com todos a partir de propostas de atividades elaboradas pelos educadores, que veem no brincar e na educação experiencial o espaço mais propício para o estímulo do protagonismo. Os estudantes são a escola, assim como todos que compartilham daquele espaço. “Aqui as crianças aprendem integralmente. Não é primeiro o conteúdo e depois a brincadeira. Tudo isso acontece de maneira interligada”, conta a diretora Zilene Maia.

A escola tem um modelo de gestão democrática e participativa em desenvolvimento, compatível com a idade dos estudantes. Entre as ações que sustentam esse modelo estão as assembleias, encontros quinzenais da comunidade escolar para discutir problemas, soluções e proposições. Esse é um espaço bem importante de participação dos alunos, que decidem sobre qualquer assunto que permeia o contexto escolar. Os estudantes escolhem ainda os “diretores de sala”, que os representam e dialogam com mais frequência com a direção da escola para levantar suas questões e a dos colegas.

O processo de transformação pedagógica da escola evidencia aos educadores o quanto eles aprendem junto com os estudantes. Os professores escutam as crianças, valorizam seus interesses e possibilitam que elas experimentem. Ali, os estudantes são preparados para a vida e não apenas para a próxima etapa da aprendizagem. Essa nova forma de se relacionar com os alunos e com a comunidade escolar são determinantes para a ampliação do olhar sobre educação e para o processo formativo dos docentes. “Um dia eu estava com meus alunos no espaço externo da escola catando sementes, quando uma ambulância passou. Eu perguntei a eles: ‘que barulho é esse? Vamos lá no muro ver’. Alguns me disseram que era uma ambulância, outros que era a polícia. Naquele momento eu percebi que, pela primeira vez, depois de dez anos de experiência em escolas particulares, eu ensinava de verdade o que era uma ambulância, pois antes eu só mostrava a viatura nas figuras de livros”, relata uma professora da escola.

2. Influência

O CMEI Hermann Gmeiner não atua isolado de seu território, pois compreende que educação não se faz sozinha. Sendo assim, a escola busca desenvolver um trabalho educativo em uma rede de articulação com outros atores sociais: a Secretaria Municipal de Educação – atuando não só nas atividades convencionais da rede, mas também apoiando e participando de um grupo de estudos de educação integral –, o CEFA, além de parcerias com empresas e organizações e, principalmente, com a ONG Aldeias Infantis SOS.

Após sua transformação pedagógica, o CMEI Hermann Gmeiner passou a receber, semanalmente, estudantes de cursos de Pedagogia de universidades de Manaus e região que têm na escola uma referência em educação infantil transformadora.

3. As práticas e as competências transformadoras

O CMEI Hermann Gmeiner reconhece a importância do trabalho em equipe, respeitando e valorizando toda a comunidade escolar. Busca-se potencializar as habilidades de cada educador e funcionário.

A nova visão da escola despertou a unidade, o respeito e a solidariedade, além de ter estimulado práticas pedagógicas que estavam adormecidas e eram desacreditadas pelos educadores. Com a intenção de conhecer outras práticas inspiradoras em Educação Infantil, professores da escola custearam suas próprias passagens para ir a outros estados brasileiros e conhecer escolas que trabalham com educação integral na perspectiva de uma escola democrática. Com esse mesmo fim, alguns deles também foram à Itália visitar a abordagem de Reggio Emilia, referência em educação da primeira infância. “Cada professor ia em uma escola, e depois a gente se reunia para contar as experiências. Foram momentos ricos de troca entre nós”, conta Zilene.

A escola também vem trabalhando o protagonismo das famílias de diversas formas. A principal delas é feita com o CEFA, que tem uma participação ativa junto à gestão da escola na articulação e transformação do projeto pedagógico. Outras famílias também ajudam no dia a dia e em atividades da escola, fazendo contação de histórias, colaborando na cozinha e participando de outras ações cotidianas.

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