Coordenadores pedagógicos da Bahia visitam escolas transformadoras
As visitas às escolas fazem parte de uma jornada de educação feita pelo programa Escolas Transformadoras em parceria com a Secretaria da Educação da Bahia
Texto e fotos: Raquel Franzim, Fernanda Miranda e Gabriel Limaverde
O Escolas Transformadoras deu início na terça-feira, dia 26, à imersão de coordenadores pedagógicos da Bahia e representantes da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (Superintendência de Educação Profissional Técnica) nas escolas de Educação Profissional que fazem parte da Comunidade Ativadora do programa.
Os coordenadores pedagógicos estiveram até quinta, 28, em três escolas transformadoras para conhecer experiências transformadoras de educação. Os encontros foram realizados com o intuito de inspirar e mobilizar a reconstrução dos currículos de suas unidades escolares. Foram anfitriões dessa imersão o Instituto Federal do Paraná – Campus Jacarezinho, o Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA), em Pernambuco e a Escola Estadual de Educação Profissional Alan Pinho Tabosa, no Ceará.
A visita faz parte de uma jornada de educação feita pela Secretaria da Educação do Estado em parceria com o Escolas Transformadoras. Na primeira etapa, realizada entre os dias 19 e 21 de setembro, os participantes discutiram o processo de ensino-aprendizagem na Educação Profissional, e trabalharam conceitos de educação transformadora, inovação pedagógica e competências transformadoras, como empatia, protagonismo, trabalho em equipe e criatividade.
Clique para saber como foi a experiência em cada uma das escolas:
Muitos estudantes chegaram ali inspirados por uma nova forma de viver. Em uma das rodas de conversa, ouviu-se várias vezes que muitos colegas chegam na escola sem conseguir falar, se expressar, e que o SERTA é uma experiência profunda de transformação de cada um, com sua potência. Outros relataram com orgulho do tempo de comunidade. Ou seja, por ser uma escola de alternância, há períodos em que grupos se formam para intervir em suas comunidades ou territórios. E são justamente as intervenções fora da escola que revelam o potencial do SERTA como um polo de desenvolvimento da região.
“Todo o processo da jornada e da imersão quebram alguns paradigmas, valorizando coordenadores pedagógicos e educadores como sujeitos de transformação de suas escolas. Por isso, estar aqui no SERTA, conhecendo bons exemplos, é fortalecer a crença de que é possível transformar”, diz Wendell Machado, diretor da Superintendência de Educação Profissional da Secretaria da Educação do Estado da Bahia.
Para Meire Teixera, coordenadora pedagógica do CEP Turismo do Leste Baiano, a visita é muito enriquecedora, pois é possível vivenciar na prática a proposta de uma escola transformadora. “O protagonismo é a chave de todo processo. A autonomia permitida ao educando proporciona uma troca de saberes entre ele e os educadores. Os papéis de professor e aluno bem definidos em uma escola comum se misturam no ambiente do SERTA. E esse aspecto é bastante ressaltado pelos estudantes, que deixam em evidência como um dos motivos para estarem ali e sentirem-se valorizados e acolhidos”. Por fim, Meire ainda destaca “a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos nas comunidades dos educandos, fortalecendo a identidade da agricultura”.
A árvore a qual ele se referia é símbolo do PRECE – Programa de Estímulo à Cooperação na Escola, uma iniciativa que estimula o protagonismo e a solidariedade no processo de aprendizagem. Em 1994, sete estudantes da região ocuparam uma casa de farinha para ler livros, discutir disciplinas da escola e dividir entre si tais conteúdos. Da experiência de cooperação desse pequeno grupo, que estudava na sombra daquela árvore, surgiu o programa, que, até 2012, já havia contribuído na colocação de mais de 500 jovens cearenses na universidade. Ao compartilhar essa história, o professor Gomes deu início à imersão no Ceará.
Na visita, os técnicos da Secretaria da Bahia e os coordenadores pedagógicos puderam conhecer a infraestrutura da Escola Alan Pinho Tabosa, dialogar com estudantes e professores, e entender mais sobre a realidade de jovens que vivenciam uma rotina escolar baseada na aprendizagem cooperativa. “O esforço, o sentimento de empatia e a responsabilidade individual de cada estudante permitem que a roda do PRECE continue a girar depois de tantos anos”, acredita o diretor da escola, Elton Luz.
Para o coordenador pedagógico do CEEP Empreende Bahia, Paulo Roberto, a jornada de educação em uma escola transformadora no Ceará traz um novo entendimento sobre a realidade de seu território. “Fica a inquietação de como estabelecer estratégias para transpor tudo que foi vivido e aprendido nesses dias intensos para a nossa escola e comunidade. Estou passando por um aprendizado que, até então, nenhuma academia havia trazido para mim”.
Após o almoço, funcionários do Instituto falaram detalhadamente sobre o método de ensino implementado no campus, no qual a autonomia dos alunos é a peça principal de sua trajetória. As aulas ocorrem em “unidades curriculares”, e não em turmas, como nos modelos mais convencionais. Os estudantes constroem sua trajetória na somatória de diversas unidades curriculares, entre as áreas da Educação Básica e Técnica.
As palavras respeito, responsabilidade e liberdade foram repetidas diversas vezes. Também foi possível conhecer o outro lado: “O campus Jacarezinho é novo e, como muitos IFs, passou por uma crise de identidade. Para nós, essa crise foi um grande motor de transformação e construção. Tentamos implementar um método que respeite a história de vida dos professores e dos alunos. O modelo educacional proposto pelo IFPR Jacarezinho nasceu do caldeirão de experiências de todos os professores, gestores e técnicos”, diz Hugo Correa, professor do Instituto.
Gisélia Lima, coordenadora pedagógica na Bahia, conta como foi sua experiência na visitação. “Posso dizer, sem reservas, que hoje meu pensamento alçou voos, a princípio rasantes, depois altos, tão altos, que nem pude dar conta da imensidão dos desafios e possibilidades que visualizava nessa viagem subjetiva. Obrigada, equipe IFPR, por ter me proporcionado viver esse conflito, por fomentar em mim o desejo de mudança, porque a transformação da minha escola depende também da minha”.