Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA (PE)

Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA (PE)

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Foi você que mergulhou no infinito mais profundo deste mundo tão deserto e trouxe flor.”

Abdalaziz de Moura
Professor

Fundado em 1989 a partir da mobilização de um grupo de agricultores, técnicos e educadores que desenvolviam em comunidades rurais a melhoria da propriedade e da renda e o uso de tecnologias apropriadas, o Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA) é hoje uma escola que oferece Ensino Técnico de Formação Profissional em Agroecologia para 1.250 estudantes nas unidades de Glória do Goitá, na região da Zona da Mata, e Ibimirim, no Sertão do Moxotó, em Pernambuco.

Durante 18 meses, em regime de alternância, os educandos ficam por uma semana nas unidades de ensino e por três semanas com a família e a comunidade, desenvolvendo pesquisas, leituras, escritas, mobilização social e tecnologias nas propriedades que residem ou compartilham, para que apliquem, sob o acompanhamento e orientação dos professores, a metodologia aprendida.

A escola tem como missão “formar jovens, técnicos, educadores e produtores familiares para atuarem na transformação das circunstâncias econômicas, sociais, ambientais, culturais, políticas e na promoção do desenvolvimento sustentável com foco no campo”. Com metodologia própria, a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads) está embasada nas noções gerais de sustentabilidade e nos princípios do desenvolvimento territorial.

Clique nas abas azuis para saber mais.

1. Por que o SERTA é uma Escola Transformadora?

No SERTA, egressos da escola compõem a presidência e demais cargos de gestão. A trajetória do diretor da instituição, por exemplo, é bastante representativa. Filho de agricultores, dono de uma pequena propriedade rural vizinha à sede da escola e com 20 irmãos, Germano Ferreira participou do curso de Agente de Desenvolvimento Local com 120 jovens dos municípios que compõem a microrregião Bacia do Rio Goitá.

Em seguida, ele foi um dos 20 jovens selecionados para iniciar um trabalho no Campo da Sementeira de recuperação das unidades produtivas da sede e de construção de um espaço de referência, formação e participação da juventude da Zona da Mata e do agreste pernambucano – indo no sentido contrário das formações técnicas oferecidas nas usinas de cana-de-açúcar, fazendas e granjas da região.

Liderados por Abdalaziz de Moura, os jovens ambicionavam um futuro promissor para aquele espaço potencialmente educativo, uma vez que queriam formar uma massa crítica para incidir nas circunstâncias de mudança do entorno.

Em 1999, e durante um ano, a equipe construiu o perfil dos jovens que entrariam na escola – com crença na agricultura familiar, na participação social, na melhoria da produção e na introdução de produtos agroecológicos.

Fruto da mobilização do antigo Cecapas (Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos Alternativos), o SERTA traz, em suas raízes, os princípios da Teologia da Libertação e da Educação Popular. Nesse sentido, a escola adota uma dinâmica de aproximação e vínculo com as famílias dos agricultores.

“Temos o entendimento de que não basta só capacitar os técnicos. Para compreender a realidade, eles precisam conviver com suas famílias. Os técnicos não mandam as famílias fazerem; eles fazem junto com elas. Eles não dão orientações e vão almoçar na cidade; eles comem o que as famílias têm na comunidade. Eles dormem com elas; têm um processo de vivência e compreensão muito forte”, explica Germano Ferreira, diretor da escola.

Ao contrário de tudo o que o SERTA vinha fazendo para desenvolver e valorizar a agricultura familiar, a escola da comunidade, localizada numa região próxima, disseminava outro caminho entre seus estudantes, dando pouco valor à agricultura. A partir desse diagnóstico, o SERTA percebeu seu papel fundamentalmente social com o desenvolvimento rural.

2. Influência

Em 2002, o Peads foi uma das referências para a construção das Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo, publicadas pelo Ministério da Educação (MEC). Atualmente, várias escolas dos estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco têm aplicado essa metodologia. “A metodologia trabalha, sobretudo, a vida. A vida é currículo”, diz Germano.

Em 2003, a Bacia do Goitá foi reconhecida como Polo da Agricultura Orgânica de Pernambuco. Hoje, o projeto é uma conquista que integra, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco (Promata), a agenda pública estadual. Com essas referências, o SERTA passou a integrar a Rede de Fortalecimento Institucional, cujo objetivo é promover, no território nacional, ações de cooperação e defesa conjunta da causa do jovem rural brasileiro. O SERTA participou também da Rede Layc (Rede Latino-Americana e do Caribe de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Sustentável) e do Cais (Centros de Aprendizagem e Intercâmbio de Saberes na América Latina), duas articulações latino-americanas de entidades voltadas para a segurança alimentar e o fortalecimento da agricultura familiar.

Educadores do SERTA dedicam-se ao acompanhamento dos estudantes durante o tempo de imersão na comunidade, pois sentem a necessidade de tornar o vínculo da escola com a família mais sólido. “Quando desempenhamos bem o tempo-comunidade, sentimos mudança expressiva nos estudantes. Eles não voltam mais os mesmos”, diz Germano. Para um dos educadores, os pais passam também a não ser mais os mesmos, “pois a escola sensibiliza a família toda”.

3. As práticas e as competências transformadoras

A formação técnica profissional em Agroecologia desenvolvida pelo SERTA atua com jovens, agricultores, lideranças, gestores e educadores para a transformação de suas circunstâncias, compreendendo a agroecologia e a permacultura como elementos fundamentais para o fortalecimento da agricultura familiar, considerando o protagonismo e a autoria dos sujeitos envolvidos no processo formativo.

No início do ano letivo, a escola é apresentada aos estudantes que chegam. Eles são convocados a repensar os espaços, o pomar, a criação de animais, o uso, a captação e distribuição de água, a vegetação nativa, o jardim e a produção de mudas e fertilizantes orgânicos. Esse diagnóstico serve para planejar as atividades de manutenção da casa.

Os estudantes cuidam do alojamento, dos sanitários e lavam seus próprios pratos. Os educadores ficam na fila do refeitório com os alunos e também lavam seus pratos, usam os mesmos sanitários e têm o mesmo tipo de alimentação. Cultiva-se a convivência em grupo, a partilha de responsabilidade e as atividades de manutenção do campo e das tecnologias. Às quartas-feiras, os estudantes compartilham as iniciativas de suas propriedades e da comunidade; às quintas, preparam a Noite Cultural.

Os trabalhos em grupo são práticas comuns da escola, como os mutirões nas propriedades dos colegas e a avaliação periódica com os estudantes sobre o andamento do curso. Na escola, também é valorizada a construção de tecnologias para a convivência com o semiárido e para a segurança hídrica, alimentar, energética e de nutrientes para o solo. Os alunos organizam-se em equipes de trabalho para cuidar de atividades específicas.

O SERTA também deu uma entrevista para o prêmio Trip Transformadores. Confira no vídeo:

Confira o álbum de fotos do SERTA:

SERTA, PE

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