“Não consigo ver a escola separada da comunidade”
Debate na Semana de Educação da USP discute qual a importância da integração entre a comunidade e a escola
Por William Nunes
A Semana de Educação da USP discutiu, na última terça-feira (21), sobre o “Empoderamento da Comunidade na Construção Escolar”. Dentre os convidados estavam Braz Nogueira, ex-diretor da EMEF Presidente Campos Salles e membro da Comunidade Ativadora do Programa Escolas Transformadoras; e Waldir Romero, ex-diretor da EMEF Comandante Garcia Davila. No encontro, os convidados contaram como conseguiram integrar comunidade e escola.
Exemplo da EMEF Campos Salles
No debate, Braz Nogueira conta que, quando chegou a Campos Salles, em Heliópolis, a escola passava por situações de violência. O ápice foi quando uma jovem estudante do EJA (Educação de Jovens e Adultos) foi assassinada à noite, na saída da aula.
“A morte dela me deixou revoltado. Não foi indignado, foi revoltado mesmo. Isso jogou fora o meu medo e propus para os professores de fazer uma caminhada pela paz nas ruas de Heliópolis. Fizemos todos um trabalho com a equipe. Procuramos as lideranças da Associação de Moradores de Heliópolis e perguntei se eles ajudariam a organizar a Caminhada Pela Paz. A resposta foi positiva: para eles não existia a escola separada deles. Nós éramos a mesma coisa”. Hoje, a Caminhada Pela Paz está indo para sua 19ª edição.
Além do caso da Caminhada Pela Paz, para que uma integração escola-comunidade realmente ocorresse, Braz e a equipe gestora fizeram trabalhos dentro da escola, buscando o diálogo com lideranças da comunidade (alunos, professores, agentes escolares, pais, etc). “Tudo passa pela educação e ela é uma tarefa de toda a sociedade, seja da família, do Estado, de entidades e de toda Associação de Moradores”, concluiu o educador.
Caso EMEF Garcia Davila
A EMEF Garcia Davila passava por uma situação de violência muito parecida a da EMEF Campos Salles. Waldir Romero, ex-diretor, foi um dos responsáveis pela integração entre a escola e seu entorno, junto da própria comunidade.
De início, a ideia da equipe do Garcia Davila era abrir a escola aos finais de semana e propor atividades: feiras, bailes, rodadas de vôlei e basquete, etc. Para isso, era necessária a participação da comunidade na construção dessas práticas. Mas uma delas foi a que mais se destacou. Waldir explica:
“Uma das coisas mais importantes para a comunidade foi, de fato, ter entrado no universo do samba. O Marcio Marcelino, ex-aluno de geografia da USP, fez um livro como Trabalho de Conclusão de Curso chamado ‘A Evolução Urbana do Parque Peruche e Sua Gente’”. O livro de Marcio conta a história do bairro e sua evolução urbana através de histórias de moradores, fotografias e análises geográficas. Waldir continua: “O autor está vivo, os personagens também. Trouxemos os dois para dentro do cotidiano da escola, e então os alunos liam o livro, tinham temas de história, geografia, relações afetivas e tinham contato com os personagens. E aí não tinha como não entrar no universo da Unidos do Peruche [a escola de samba]”.
Muitos dos moradores longínquos do Parque Peruche eram membros da Escola de Samba. Além disso, os enredos dos carnavais de cada ano eram feitos também para serem temas transversais (como foi o enredo sobre Maurício de Souza, em 2007). “A escola Garcia Davila e a Escola de Samba passaram a ser uma coisa só. Chegamos a levar 120 alunos para desfilar. Então, quando a Escola ia para a avenida, o aluno se enxergava e via que também era parte da construção do projeto e da comunidade”, completou Waldir.