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Flavio Bassi: “Nosso grande desejo é mudar a conversa sobre educação”

Flavio Bassi: “Nosso grande desejo é mudar a conversa sobre educação”

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Por Carolina Prestes / Escolas Transformadoras

O Programa Escolas Transformadoras teve início nos EUA, em 2009. De lá pra cá, a iniciativa espalhou-se por 28 países e hoje conta com uma rede global composta por mais de 200 escolas.

O Programa, que chegou ao Brasil em setembro de 2015, correalizado pelo Instituto Alana, nasceu da crença fundante da Ashoka, a de que todos podem ser transformadores da sociedade e que, para formar estes sujeitos transformadores é essencial reconhecer a escola como um lugar privilegiado, capaz de proporcionar experiências que coloquem crianças e jovens, desde muito cedo, em contato com valores e competências primordiais para o desenvolvimento de uma postura ativa, comprometida e transformadora.

Olhando para a trajetória de seus empreendedores sociais, a Ashoka definiu quatro competências como essenciais, são elas: a empatia, a criatividade, o trabalho em equipe e o protagonismo social.

Conversamos com Flavio Bassi, diretor do Programa Escolas Transformadoras da Ashoka na América Latina. Confira a entrevista e entenda como surgiu o Programa, quais os caminhos percorridos até o momento e como se dá a realização da iniciativa no Brasil.

[Site] – Como e com qual objetivo surgiu o Programa Escolas Transformadoras?

[Flávio Bassi] – O Programa Escolas Transformadoras surgiu como uma consequência lógica da visão original da Ashoka, a de que ‘todos podem ser transformadores’.

A Ashoka iniciou suas atividades em 1981, reconhecendo o trabalho daqueles que estavam construindo o setor social e produzindo impacto positivo em seus entornos. O desejo maior da instituição era identificar essas pessoas e conecta-las, para que pudessem fortalecer e ampliar suas ações, advogando e atuando por mudanças na sociedade.

O ‘Escolas Transformadoras’ tem suas raízes nesse trabalho. Olhamos para as experiências dos nossos empreendedores sociais e identificamos alguns valores específicos em suas trajetórias, como a empatia, a criatividade, o trabalho em equipe e o protagonismo social que, por fim, tornaram-se as quatro competências fundantes do Programa Escolas Transformadoras.

Entendemos que não seria possível falar em ‘transformação social’ sem passar pelo debate sobre a educação e, assim, passamos a olhar para a escola como um espaço privilegiado, capaz de colocar crianças e jovens, desde muito cedo, em contato com esses 4 valores e competências fundamentais.

O Programa nasceu oficialmente em 2009, nos EUA, tendo como grande foco a Empatia. Hoje somos uma comunidade global, com mais de 200 escolas, sendo 10 brasileiras.  A diversidade é característica-chave da rede.

O objetivo do Programa é facilitar o encontro entre escolas que estão repensando a educação, e caminhando rumo a modelos capazes de formar sujeitos protagonistas e transformadores da realidade. As escolas da rede são aquelas que olham para a integralidade da criança, e não somente para os conteúdos acadêmicos, e que buscam levar sua atuação para uma esfera ampla, provocando impacto positivo na sociedade. São escolas que nos inspiram e que ajudam a ampliar a demanda social por esse tipo de educação.

[Site] – No Brasil, o Programa chega correalizado pelo Instituto Alana. Como se deu essa parceria?

[Flavio Bassi] – O encontro entre a Ashoka e o Instituto Alana não é recente. O Alana faz parte da Rede Ashoka desde 2010, quando a Ana Lucia Villela, fundadora do Instituto, foi reconhecida como Fellow Ashoka. Existe um alinhamento muito grande entre as visões das duas organizações. A Ashoka acredita que ‘todos podem ser transformadores’, enquanto o Alana tem a missão de ‘honrar a infância’ e enxerga a criança com um ser potente, que merece prioridade máxima e absoluta.

Estas visões se cruzam a partir do momento em que entendemos que, quanto mais cedo ocorrem as experiências de afeto e empatia, maiores as oportunidades da criança tornar-se um sujeito protagonista, transformador da realidade. As 4 competências base do Programa Escolas Transformadoras estão ligadas à natureza da infância e devem ser trabalhadas pelas escolas, pois permitem às crianças o alcance de seu potencial máximo. Educadores precisam entender a importância da aprendizagem ativa, que coloca o aluno como protagonista do aprendizado.

O Instituto Alana e a Ashoka acreditam, sobretudo, em experiências que permitam à criança ser tudo o que ela quiser ser e, foi a partir desta visão comum, que surgiu a parceria responsável por trazer o Escolas Transformadoras ao Brasil.

[Site] – Por que trazer a iniciativa para o Brasil? Como ela contribui para o cenário da educação brasileira?

[Flavio Bassi] – O Programa Escolas Transformadoras está em 28 países atualmente. Os contextos variam, mas existe uma máxima comum, a de que a educação é prioritária para a construção de uma sociedade melhor. Não somos uma única solução, mas buscamos reconhecer o que já está sendo feito em cada país. No Brasil, por exemplo, temos um universo rico de iniciativas que estão repensando a educação a partir da premissa de que todos podem ser transformadores. Dez escolas brasileiras já foram reconhecidas como transformadoras. Buscamos, portanto, aglutinar essas equipes escolares que estão repensando a educação, para que deem escala às suas ações, expandindo-as para além dos muros de suas instituições e impactando a sociedade de forma mais ampla, inclusive no que se refere à influência em políticas públicas e na carreira docente, por exemplo.

Vemos, no Brasil, uma sensação de desalento, que sempre acompanha os debates sobre educação. Precisamos, porém, nos deixar inspirar por histórias reais, de pessoas que já estão construindo novos paradigmas e caminhos possíveis. O Escola Transformadoras busca dar luz a essas iniciativas e fortalecê-las.

[Site] – Como identificar uma ‘Escola Transformadora’?

[Flavio Bassi] – A Escola, primeiramente, deve estar alinhada a visão de que todos podem ser transformadores e demostrar essa visão em suas práticas. Ao identificarmos uma Escola Transformadora olhamos para as 4 competências base de nosso programa: a empatia, a criatividade, o trabalho em equipe e o protagonismo social. Estes são valores e habilidades que devem estar presentes na abordagem pedagógica, seja esta qual for. Não elegemos uma linha pedagógica específica, mas dentro da pedagogia de cada escola olhamos para as relações que se estabelecem na escola e as experiências proporcionadas à comunidade escolar.

Também olhamos para a gestão da escola. É fundamental que a equipe esteja alinhada aos valores do Programa e que tenha abertura para a troca, reconhecendo seu dever e capacidade de influência social. Escolas Transformadoras são aquelas que não permitem que o trabalho que desenvolvem esgote-se dentro da escola. Os educadores devem reconhecer seu papel político, de liderança social. O potencial de influência da equipe escolar é também um dos critérios de reconhecimento.

É importante destacar que o Escolas Transformadoras não é um prêmio, ou um selo, mas sim um chamado, um convite para que, aqueles que estão comprometidos e alinhados à visão de transformação social, possam se unir e trabalhar em conjunto, somando esforços e articulando-e com as comunidades da Ashoka e do Alana no mundo todo.

O reconhecimento de uma Escola Transformadora ocorre a partir de um processo de avaliação baseado em critérios comuns, que podem ser vistos aqui. É possível indicar escolas para o Programa, ou inscrever a sua própria instituição. Um painel é organizado para que especialistas escutem essas escolas e as equipes Ashoka e Alana decidem, consensualmente, quais escolas estão alinhadas aos valores e à visão do Programa.

No Brasil, as 10 primeiras escolas já foram reconhecidas como transformadoras. Escolas de diferentes regiões e realidades, públicas, comunitárias, privadas, mas alinhadas em valores e princípios comuns.

[Site] – Quais impactos o Programa espera gerar dentro do médio prazo?

[Flavio Bassi] – Nosso grande desejo é mudar a conversa sobre educação. Queremos que todos reconheçam a criatividade, a empatia, o protagonismo social e o trabalho em equipe como competências tão importantes quanto o ensino da matemática. Estas são competências e habilidades que podemos aprender e cultivar, portanto, precisamos levá-las a sério!

Queremos ver escolas interagindo com legisladores, acadêmicos, comunicadores, participando das discussões sobre a formação docente, dentre outras ações. Queremos que todos possam tomar os desafios sociais para si, assim teremos maiores chances de endereçar os problemas mais prementes do mundo, e construir uma sociedade mais justa.

Podemos sonhar com isso, pois já está acontecendo. Por isso buscamos dar visibilidade para as escolas que estão inovando, e incentivar que elas expandam suas experiências e se conectem.

As 4 competências do Programa Escolas Transformadoras estão ligadas ao respeito, à diversidade e, sobretudo, aos direitos humanos. São valores básicos, que podemos aprender. Em um sistema desigual, como o brasileiro, devemos lutar para que todas as crianças e jovens possam ter acesso a uma educação que proporcione o alcance de sua máxima potência; esse é um direito de todos.

Foto: Openphoto

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