Escola Vila Verde (GO)
Se fazemos o bem para os demais seres e para o ambiente, estamos cuidando de nosso próprio bem. Estamos todos interligados e dependemos uns dos outros.”
Lama Padma Samten
A Escola Vila Verde é uma escola particular que atende crianças de 3 a 6 anos da educação infantil, na unidade urbana, e crianças de 7 a 12 anos do ensino fundamental, na unidade próxima ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no município de Alto Paraíso de Goiás (GO), uma região típica da vegetação do cerrado.
Fundada em 2000 por um grupo de pais e mães, a escola intencionava oferecer uma educação diferenciada às crianças da região. Em 2013, a instituição passou a ser parceira do Instituto Caminho do Meio, mantido pelo Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB). Desde então, a escola insere a filosofia budista em sua pedagogia por meio de projetos. Nesse sentido, os estudantes gozam de liberdade pedagógica, uma vez que assumem identidade própria e relacionada à realidade local.
A escola tem como missão “educar as pessoas para a felicidade e para a ação no mundo, com confiança e consciência de si, do outro e do nosso ambiente”. Inseridos nesse contexto, os alunos aprendem, desde cedo, a cuidar do lugar em que vivem. Para isso, são estimulados, primeiramente, a conhecer o espaço, aliando teoria e prática, e, em seguida, a interferir conscientemente no meio e dele se apropriar, com respeito e responsabilidade. Dessa forma, os diversos atores da comunidade escolar são fortemente engajados nas questões ambientais, a partir das demandas do próprio espaço que ocupam. A necessidade de preservação da flora e fauna locais intensifica a conscientização por hábitos sustentáveis, indispensáveis à vida das futuras gerações. A militância ambiental presente e atuante visa, portanto, ao bem comum dos que hoje vivem naquele lugar e também daqueles que viverão.
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A adesão aos princípios da filosofia budista traduz-se na premissa de educar para a felicidade e para a Cultura de Paz. Para tanto, a Escola Vila Verde contextualiza as cinco inteligências que regem o ensinamento budista e estão de acordo com os princípios pedagógicos da escola:
- Sabedoria do Espelho: reconhecer o outro, com suas diferenças, em seu próprio contexto, sem julgamentos;
- Sabedoria da Igualdade: interessar-se genuinamente pelo outro, promovendo suas qualidades, alegrando-se com a alegria, as conquistas e o crescimento do outro;
- Sabedoria Discriminativa: compreender e diagnosticar obstáculos, buscar estratégias, orientar e prescrever métodos;
- Sabedoria da Causalidade: relacionar as causas e consequências associadas (ações positivas geram efeitos positivos; ações negativas geram efeitos negativos), buscar promover ações que tragam benefícios e reduzir ações que tragam malefícios;
- Sabedoria da Liberação: reconhecer todas as possibilidades do outro. Dimensão livre e criativa diante das diversas situações. Olhar aberto e inovador. Ver o outro com liberdade.
“Todas as sabedorias são interligadas e estão presentes na escola enquanto práxis”, diz o diretor da Vila Verde, Fernando Leão. “A gente ensina fazendo e não falando o que se deve fazer. Portanto, aquilo que falo é aquilo que pratico”, afirma.
Para ilustrar o exercício da causalidade, vale destacar um dos projetos da escola, que propõe a recuperação da antiga área de pastagem em que uma das unidades está situada por meio do reflorestamento. A atividade, a partir da proposta do plano de manejo, propõe que cada uma das salas prepare uma muda específica para o posterior plantio.
As turmas que preparam as mudas devem encaminhá-las às séries seguintes, para que estas realizem o plantio com a muda doada. Assim, cada turma que fez a preparação das mudas também participará da atividade de plantio, uma vez que receberá a doação da série anterior. Nesse sentido, todos se tornam responsáveis por esse trabalho coletivo. Todos são estimulados a “fazer pelo outro e para o outro”, convidados ao exercício de dar e receber, para que todos se beneficiem, até aqueles que, um dia, usufruirão da sombra daquelas árvores.
Nos projetos de pesquisa, o aluno interage com o objeto de conhecimento de modo engajado e ativo. Ele não é um mero espectador do universo à sua volta, mas, sim, agente atuante no processo de aprendizagem, partindo de temas de seu próprio interesse e, portanto, mais significativos a ele. Um determinado tema a ser investigado é amplamente discutido por todos os professores, para que cada disciplina possa explorá-lo, aliando os conteúdos curriculares às práticas. Para Fernando Leão, “todos os espaços da escola são espaços pedagógicos”.
Alguns ambientes foram pensados e elaborados conjuntamente – entre equipe escolar, alunos e pais –, de modo a garantir o vínculo com aquele espaço. É o caso da Oca, construída, em regime de mutirão, com o adobe pisado pelos alunos.
A construção da unidade de ensino fundamental obedece à bioconstrução, já que a preocupação com a ventilação e a qualidade térmica do ambiente é considerada. Além disso, a fossa, feita com um sistema limpo, de evaporação, e que não entra em contato com a terra, favorece a conservação de uma região de preservação ambiental.
Na Escola Vila Verde, os alunos são frequentemente convidados ao engajamento coletivo, principalmente nas questões ligadas à conservação do ambiente em que vivem. Nesse sentido, eles têm forte militância ambiental. Preocupações com o uso do material e com o desperdício são comuns no cotidiano escolar, convidando os alunos a pensarem em estratégias de reaproveitamento e de uso consciente durante as aulas.
O projeto Investigando a Nossa Natureza, desenvolvido na escola em parceria com o Instituto Caminho do Meio, é uma iniciativa que visa aproximar os alunos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros para que eles conheçam e se apropriem do espaço a fim de mantê-lo conservado.
A iniciativa, no entanto, não se limita aos alunos da Escola Vila Verde, mas considera todas as crianças do município de Alto Paraíso, para que a população tenha conhecimento das riquezas e das responsabilidades à sua volta.
O projeto ocorre também em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), sob a liderança do pai de dois alunos da escola. Nesse sentido, a Vila Verde articula-se com as demais escolas da região em um esforço de não segregação e de democratização das oportunidades. A escola ainda promove os Jogos Cooperativos, que propagam a ideia da união das crianças pelo bem comum.
Além da própria inovação pedagógica, caracterizada pela adaptação de uma filosofia budista à prática educativa, há diversas inovações nas ações diárias da escola, nas formas de organização e de participação de todos os envolvidos na comunidade escolar.
De fato, para o diretor da escola, “todos fazem parte da equipe escolar”. Nesse sentido, os diferentes atores da escola têm voz. Na Escola Vila Verde, além das reuniões do corpo docente e da direção, há também o Comitê de Pais, encontros que acontecem bimestralmente entre pais, mães e a direção da escola.
Nesse comitê, os participantes discutem, entre outros assuntos, como organizar o Banco de Pais, grupo no qual cada um oferece auxílio, conforme suas habilidades, às diferentes demandas da escola, como manutenção (serviços gerais, obras, marcenaria), coleta seletiva (a cada semana, um pai ou uma mãe fica responsável por recolher o lixo destinado à reciclagem) ou eventuais aulas aos alunos. Um dos pais pode, por exemplo, oferecer oficina de marcenaria; outro, conversar sobre a conservação do parque; uma mãe pode auxiliar com seus conhecimentos em Fitoterapia. A escola pretende ainda desenvolver o Projeto Farmácia Viva, em parceria com a UnB Polo Cerrado, o Conselho do Instituto Caminho do Meio, o Conselho do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e representantes da sociedade.
Outra iniciativa da escola é o GEI (Grupo de Estudos por Interesse). Nesse grupo, os alunos são convidados a participar de oficinas oferecidas por pais, professores ou convidados, além de serem estimulados a ministrar oficinas aos demais e a debater questões oriundas do cotidiano escolar na Assembleia Estudantil.
Veja as fotos da Escola Vila Verde: