Programa Escolas Transformadoras reconhece 3 novas escolas brasileiras
Escolas do Amazonas, Distrito Federal e da Paraíba passam a integrar rede de Escolas Transformadoras do Brasil.
Por Carolina Prestes
Neste mês, três novas escolas passaram a integrar a rede de Escolas Transformadoras do Brasil. Com as novas integrantes, são dezoito as escolas brasileiras reconhecidas pelo Programa e comprometidas em mudar a conversa sobre educação.
Iniciativa Global da Ashoka e lançado no Brasil em 2015 – numa correalização com o Instituto Alana – o Programa Escolas Transformadoras tem como objetivo fortalecer a visão que todo estudante, educador, gestor e comunidade escolar são agentes de transformação e encontra na escola um espaço privilegiado para proporcionar experiências, amparadas por valores e ferramentas como a empatia, o trabalho em equipe, a criatividade e o protagonismo.
Após um criterioso processo de reconhecimento, no início deste mês, a Escola Nossa Senhora do Carmo (Bananeiras, PB), a Escola Municipal Professor Waldir Garcia (Manaus, AM) e a Associação Pró-Educação Vivendo e Aprendendo (Brasília, DF) foram convidadas a engajar-se em uma comunidade composta por outras escolas e por profissionais de diversas áreas (jornalistas, professores universitários, representantes do poder público e do terceiro setor, artistas, entre outros) que comungam da visão de que todos podem ser transformadores.
Alinhadas aos valores do Programa, cada escola chega para fortalecer a atuação de uma comunidade dedicada a questionar modelos de educação pautados exclusivamente na aprendizagem de conteúdos cognitivos dissociados da vida e do sentido social da educação. Além disso abrem diálogos com a sociedade sobre novos caminhos para o ensino-aprendizagem e o impacto disso nas relações humanas nos territórios.
Conheça as novas escolas da rede
A Escola Nossa Senhora do Carmo, de Bananeiras (PB), integra a lista dos novos reconhecimentos do Programa. A escola nasceu em 2005, como um projeto social das irmãs carmelitas. Iniciou as atividades com Educação de Jovens e Adultos (EJA) e sua primeira sede foi na casa de um lavrador da região, também aluno.
Após levantar fundos, foi possível a aquisição de um terreno e a expansão da proposta pedagógica. Hoje, a escola oferece Educação Infantil e Ensino Fundamental Completo e recebe 233 alunos, grande parte filhos dos lavradores da região. Os quase 30 educadores (entre professores e diretores) são voluntários e a escola sobrevive de doações [entre os doadores está o teólogo Frei Betto]. Inspirados pelo projeto ncora e pela Escola da Ponte, revolucionaram seu currículo e formato de trabalho e adotaram a pedagogia de projetos em salas multisseriadas.
Um dos objetivos da escola é reverter a lógica da educação bancária. Por isso, a opção pela pedagogia de projetos. Leila Coelho, diretora da escola, afirma: “nada aqui é imposto, tudo parte do interesse dos estudantes e os tutores auxiliam no caminho a ser percorrido pelo grupo”. Ali, os educadores escutam verdadeiramente os estudantes, respeitando seus repertórios, trajetórias e suas necessidades. Assim, as crianças sentem-se seguras e as relações estabelecidas são harmoniosas, de respeito e acolhimento.
Baseada em uma proposta de educação popular e humanizada, a escola trabalha as diversas dimensões do ser humano (física, espiritual, psicológica) e centra-se em valores humanos de dignidade, respeito, fraternidade e solidariedade. Também preza por garantir uma educação de qualidade para todos, principalmente àqueles que não tiveram oportunidades.
A Escola Municipal Professor Waldir Garcia, de Manaus (AM), é a primeira da região norte a integrar a comunidade (veja aqui todas as escolas reconhecidas pelo Programa). Fundada em 1987, a Waldir Garcia atende 226 alunos de Ensino Fundamental, EJA e supletivo. Localizada numa região de extrema vulnerabilidade social, a escola acreditou que a educação é uma ferramenta importantíssima de justiça social não desistindo de nenhum aluno evadido da escola por causa da fome, da miséria e do trabalho infantil. Não apenas eliminou a evasão escolar como transformou a escola em um espaço onde estudantes participam ativamente de decisões por meio de assembleias.
A escola é Integra o Coletivo Escola Família Amazonas (CEFA); o que a conecta com outras escolas da região e fortalece a sua atuação como um centro de encontro e articulação da comunidade. Sua força de transformação está além dos muros da escola. Em momentos de incêndio e alagamentos, por exemplo, já serviu como base para as famílias do entorno, favorecendo a construção de vínculos sólidos e duradouros. Também abre suas portas aos sábados e domingos, disponibilizando à comunidade a Biblioteca, quadra, telecentro, sessões de cinema e almoço.
Além desta relação estreita com a comunidade, a escola também se destaca por ser um espaço aberto à diversidade. Muitos alunos são imigrantes haitianos e a comunidade escolar demonstra grande empatia em acolhê-los. Lúcia Cristina Cortez, diretora da escola, afirma: “todos aqui encontram seu espaço. Esforçamo-nos ao máximo para fazer com que todos aprendam e se sintam felizes”.
A valorização da cultura local também é um dos pontos fortes da Waldir Garcia. O Projeto Folclórico da Escola trabalha a dança e a cultura regional de forma interdisciplinar. Além das apresentações culturais, são realizadas pesquisas sobre os festivais dos municípios do Amazonas. Todos os alunos participam das atividades que acontecem durante as aulas curriculares e também no contra turno, no período de junho a dezembro.
A Escola Municipal Waldir Garcia é um ótimo exemplo de que o sucesso na aprendizagem e nos resultados em avaliações externas como IDEB (sua nota está acima da média brasileira), entre outros, não é incompatível com o foco nas relações humanas e no cultivo de valores e habilidades necessárias para a transformação da realidade, como o protagonismo, a empatia e o trabalho em equipe.
A Associação Pró-Educação Vivendo e Aprendendo, de Brasília (DF), completa a tríade de reconhecimentos. Fundada em 1982, a escola nasceu da iniciativa de um pequeno grupo formado por pedagogas, artistas e acadêmicos que estavam insatisfeitos com o modelo educacional tecnicista do regime militar. O grupo buscava uma educação em que a criança fosse reconhecida como sujeito capaz de pensar, criar e fazer escolhas. Devido ao espírito contestador – e sempre preocupada em manter diálogo e criar pontes com outras iniciativas inovadoras – a Associação, hoje com 33 anos, se tornou referência de educação infantil em Brasília. Com a sua entrada, lançamos o reconhecimento de outras escolas dessa etapa da educação básica no Programa.
Ancorada no pressuposto de uma educação democrática, a Vivendo e Aprendendo acredita que todos são educadores e estão implicados no projeto pedagógico da escola. Assim, os pais, funcionários e professores são protagonistas nas decisões e na gestão, o que fortalece a comunidade escolar, convidando-a a construir conjuntamente novos caminhos para a educação. Também há uma relação estreita com a Universidade de Brasília, que atua como parceira em diversas iniciativas da escola.
A escola olha para o desenvolvimento integral da criança, abrindo espaço para as diferentes formas de expressão e valorizando o brincar livre como linguagem essencial da infância. Ali, as crianças têm no brincar livre sua principal forma de expressão e protagonismo e há muita liberdade de exploração do espaço, dos materiais e principalmente da natureza. No momento do parque crianças de diferentes idades convivem, brincam e interagem entre si e todos os educadores se responsabilizam por cada criança, independente de ser ou não seu aluno. O protagonismo de cada uma delas é valorizado e incentivado pelos educadores. As vivências contemplam o desenvolvimento afetivo, social e corporal dos alunos e alunas, além das áreas do conhecimento.