Escola Rural Dendê da Serra (BA)

Empatia e colaboração são valores intrínsecos à cultura da escola e aos princípios da pedagogia Waldorf – da qual a Escola Rural Dendê da Serra faz parte –, cuja preocupação central é o desenvolvimento global dos alunos. Por meio da visão holística, a escola debruça-se em bases antroposóficas, tendo em vista a evolução física, emocional e espiritual do ser humano.

Embora haja diferenças socioeconômicas entre os alunos, a escola apresenta-se como um ambiente comum a todos, posicionando-se igualitariamente frente às divergências que pontualmente possam vir a surgir. Explora-se a integração entre os alunos por meio de trabalhos em grupo, refeições em conjunto e a possibilidade de troca nos momentos de aprendizagem.

A ideia da pedagogia Waldorf é que cada aluno deve desenvolver o máximo de si, considerando suas habilidades e capacidades. A escola promove a abertura de possibilidades para que cada um perceba e encontre o que é significativo para si.

Há casos de ex-estudantes que assumem papéis de liderança na sociedade, como o caso de uma ex-aluna que é líder comunitária da Casa da Economia Solidária, projeto que tem como objetivo otimizar a organização social da produção agrícola a fim de mobilizar produtores rurais da Associação do Bairro Novo e garantir melhores condições de trabalho. O Projeto Coletivo Casa Verde, por sua vez, na zona urbana de Serra Grande, é formado por alguns ex-alunos da escola, que trabalham ministrando cursos nas oficinas de arte-educação, como marcenaria, jardinagem e contação de histórias.

Além do foco na educação formal, a equipe escolar intenciona diminuir as diferenças, fruto da desigualdade social da região, por meio de um programa de integração social.

A estrutura da Dendê da Serra é colaborativa e constituída em associação, composta de pais, professores, funcionários e membros da comunidade, que se dividem em grupos de trabalho conforme a necessidade, disponibilidade, interesse e aptidão pessoal. Cada grupo é responsável por um aspecto referente ao funcionamento da escola. O grupo que cuida da alimentação, por exemplo, preocupa-se com a qualidade da merenda escolar; os integrantes que cuidam das obras discutem e desenvolvem estratégias de conservação, manutenção e ampliação da escola. Os pais participam ativamente das questões escolares, atuando como voluntários ou membros dos grupos de trabalho, e ainda integram a assembleia da associação, participando de discussões e mobilizando-se frente às necessidades da comunidade.

Segundo a filosofia Waldorf, as escolas devem pertencer a uma associação beneficente sem fins lucrativos. A Dendê da Serra integra crianças de diferentes classes sociais, das quais aproximadamente metade é da comunidade sem condições financeiras de arcar com os custos mensais, e, por isso, recebe bolsa integral. O restante contribui financeiramente – parcial ou integralmente – em proporções variáveis.

A associação, a fim de garantir o ensino a todos e promover a integração social, recebe uma parte de seu investimento de agentes financiadores e outra parte de um sistema de apadrinhamento de crianças, criado em 2011, em que membros da sociedade civil podem custear, parcial ou integralmente, a formação de determinados alunos. Aos padrinhos desse sistema é conferido o direito de definir o valor do investimento e de optar pelo envolvimento no acompanhamento desses alunos.

A escola faz parte da Rede Aliança pela Infância – a seção brasileira da Alliance for Childhood – e participa de articulações, como o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. A adaptação dos princípios da pedagogia Waldorf por uma metodologia que atende à realidade local conferiu à Dendê da Serra uma posição de referência no Brasil, além de ser a escola Waldorf mais antiga do estado baiano.

Alguns exemplos ilustram o desenvolvimento das habilidades e competências da escola, como o teatro de formatura, apresentado anualmente pelas salas da 9ª série. Nessa atividade, as turmas participam ativamente da produção e montagem da peça, a fim de cumprir a função pedagógica proposta pelo professor.

O exercício da empatia pode ser ilustrado nas Provas de Coragem, que acontecem anualmente como fechamento do período Micaélico (Micael: arcanjo da coragem). Nessas provas, os alunos mais velhos prestam apoio às crianças mais novas a fim de encorajá-las a enfrentar os medos e a superação das dificuldades, como, por exemplo, nas atividades de travessia na mata. No caso de conflitos, os professores atuam como mediadores.

A aprendizagem se dá significativamente, uma vez que a prática precede a teoria. Um exemplo que ilustra essa dinâmica ocorre com a disciplina de Física, que integra o currículo a partir do 6º ano. O professor, a partir da sensibilização de materiais, cria e desenvolve experiências com a turma, propõe a elaboração de relatório a respeito das observações vivenciadas, faz retrospectiva para sanar dúvidas, estabelece o diálogo, levanta hipóteses e, por fim, apresenta conceitos que abordam determinada teoria. Na área ambiental, a escola desenvolve muitos projetos, como a plantação de espécies da flora local, a elaboração de fertilizantes naturais, a preparação da terra, a produção de composto, a separação e reciclagem do lixo na própria escola, e ainda incentiva os estudantes a explorarem os rios, o mar e a mata da região.

A escola opta por não reprovar os alunos, segundo a valorização do estado anímico infantil, em função do cognitivo, e respeita as diferentes características e etapas de desenvolvimento dos estudantes, partindo do entendimento de que o processo de ensino e aprendizagem não se dá apenas no campo intelectual.