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Programa Escolas Transformadoras promove roda de conversa sobre a importância da empatia na educação

Programa Escolas Transformadoras promove roda de conversa sobre a importância da empatia na educação

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Por Equipe Escolas Transformadoras
Fotos: Rodolfo Goud

No dia 19 de maio de 2016 aconteceu  – no espaço Crisantempo – uma roda de conversa que reuniu 15 especialistas de diversas áreas para discutir o conceito de Empatia, uma das quatro competências consideradas, pelo Programa Escolas Transformadoras, como necessárias para a formação de sujeitos transformadores. O Programa, realizado no Brasil pela Ashoka e pelo Instituto Alana, é uma iniciativa para identificar, conectar e apoiar escolas com práticas inovadoras.

O objetivo do evento foi construir, coletivamente, um entendimento sobre a importância da empatia como um valor e como uma competência que pode ser aprendida e cultivada na escola. A discussão vai de encontro a um movimento global, que preocupa-se com a formação integral dos sujeitos e que, portanto, considera relevante trabalhar habilidades socioemocionais em sala de aula.

Ana Lucia Villela, fundadora e presidente do Instituto Alana, e Anamaria Schindler, diretora da Ashoka para América Latina, destacaram a preocupação de ambas as organizações em discutir a relevância da empatia na formação de crianças e jovens. Ana Lucia destacou a importância desta competência para aqueles que trabalham com educação e pontuou: “enquanto pequenas, as crianças são puro coração, elas se enxergam como parte de um todo. Quando crescemos, muitas vezes, nos afastamos do coração. O Alana busca olhar para isso, para a importância deste lado mais sensível dentro das escolas“.

Anamaria falou sobre a visão principal da Ashoka, a de que todos podem ser agentes de transformação da sociedade e que, para isso, a empatia é competência central. “Conversas como essa ocorrem na Índia, na África, na Europa, nos EUA. Estamos trabalhando para que esta seja uma conversa ampla e irrestrita“, destacou a diretora da Ashoka.

Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia da FFLCH-USP e ex ministro da educação abriu a conversa com provocações importantes, resgatando conceitos como “paixão”, “compaixão” e “sofrimento”, discutidos por Rosseau em meados do século 18, e intimamente ligados à reflexão sobre o conceito de empatia.

Renato falou sobre o surgimento e sobre a valorização da empatia como uma das grandes conquistas da humanidade, fazendo o contraponto com práticas da Idade Média, em que execuções em praça pública eram espetáculos aguardados e desfrutados de forma prazerosa pela população. Hoje, assistir a dor alheia com prazer é postura condenada: “Essa mudança significativa advém, em grande parte, dos governos democráticos, que trazem ideias de igualdade e direitos humanos“, pontuou Janine, provocando: “Mas quanto dessa empatia pegou? Será que ela está consolidada em nossa sociedade, ou ainda vive na superfície?“. Janine também apontou à crença de que a empatia é uma competência a ser construída e que precisamos zelar pela educação como um espaço de formação, e não de treinamento.

Partindo das premissas de que a empatia pode ser aprendida e cultivada e que ela é a base para a formação de crianças transformadoras, Ana Cláudia Leite e Flávio Bassi, mediadores da conversa e líderes do programa Escolas Transformadoras, iniciaram o debate com as seguintes perguntas:Quais são as principais implicações dessas premissas para a educação?” e ” Quais estratégias e ações podemos pensar juntos para ajudar a criar e/ou ampliar a demanda social por uma educação que equacione empatia com transformação social”?

Para Maria Amélia, diretora do Colégio Viver, é equivocado achar que a criança é naturalmente empática: “Dentro da escola, em uma situação de conflito, é muito difícil fazer com que a criança se coloque com a cabeça do outro em uma situação adversa da dele. A empatia tem que ser desenvolvida e tem mecanismos para se fazer isso. É um exercício constante que cada vez mais deixa de existir em nossa sociedade, nas famílias, nas ruas. Quando eu era pequena, a gente brincava em uma rua que existia mais diversidade. Hoje tudo é mais setorizado e isso dificulta o exercício de se colocar no lugar do outro”, disse.

Além de Maria Amélia, participaram do debate Luciana Fevorini (Colégio Equipe), Sílvia Carneiro (Escola Amigos do Verde), Sônia Ribeiro (Escola Luiza Mahin), Ana Elisa (EMEF Des. Amorim Lima) e Kátia e Marcos (CIEJA Campo Limpo), líderes das equipes das escolas reconhecidas pelo Programa Escolas Transformadoras. Elas trouxeram para a conversa a realidade cotidiana das escolas, defendendo a ideia de que os educadores são os responsáveis por propiciar condições para que a empatia seja vivenciada e aprendida dentro do ambiente escolar.

Da primeira parte do debate conclui-se que independentemente da empatia ser uma qualidade inata, adquirida, ou ainda inata e adquirida é fundamental que ela seja vivida na escola. Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha de São Paulo, lançou a proposta:“Vamos colocar, um dia, os alunos no lugar dos professores e os professores no lugar dos alunos. Vamos colocar os professores no lugar de diretores e vice versa. Essa é uma maneira de começar a entender o que significa estar no lugar do outro. Se é inato ou construído, pouco importa. O que importa é que é importante. Faz parte da humanidade.” 

Na segunda parte do debate, em que foram discutidas ações para a promoção da empatia, Helena Singer (SESC) destacou o que não deve ser feito na escola em nome da promoção da empatia: “Há um risco de ampliar a demanda pela discussão da empatia de forma superficial. Eu queria deixar claro como não se promove empatia fazendo de conta que está promovendo. Em primeiro lugar, dar aula sobre empatia. Em segundo, elaborar exercícios para desenvolver empatia. A terceira forma é levando as crianças para fazer trabalho filantrópico.”

Ana Elisa, diretora da EMEF Amorim Lima, e a artista plástica Stela Barbieri concordaram ao destacar a importância da arte e da cultura para a construção dessa educação transformadora fundada na empatia. Sonia Ribero, líder da Escola Comunitária Luiza Mahim, trouxe luz à importância da vivência cotidiana e da relação da escola com a comunidade: “A gente precisa, enquanto escola, fazer com que cada criança vivencie a empatia. Um processo educativo não se faz entre quatro paredes, é preciso envolver a comunidade toda e fazer com que as crianças se sintam pertencentes, porque a gente constrói ‘com’ e não faz ‘para’.”

– Outras vozes –

Ana Olmos (psicanalista e psicoterapeuta). “O que e tenho observado é que a empatia é construída e uma série de fatores participam dessa construção, como a sociedade em que se vive e seus valores. Ela é um conjunto de percepções emocionais onde o outro existe diferente de mim. ”

Auro Lescher (psiquiatra e coordenador do Projeto Quixote)- “Empatia é um processo natural, capacidade e possibilidade mais sofisticada do humano. me identificar e me comunicar com o outro. É preciso, o tempo inteiro, exercitar, afirmar e propor situações em que isso esteja mais presente na humanidade.”

Stela Barbieri (artista plástica)- “Tem uma faísca que é inata. A empatia talvez seja como a experiência do outro é em mim. Essa experiência entre nós, da relação, precisa mudar o meu conhecimento sobre determinado assunto.”

Leandro Beguoci (Revista Nova Escola): “Num país tão desigual, a empatia se materializa desigualmente. É muito difícil ter empatia no abstrato, quando o outro é invisível.”

Helena Singer (SESC): “Há um risco de ampliar a demanda pela discussão da empatia de forma superficial. Eu queria deixar claro como não se promove empatia fazendo de conta que está promovendo. Em primeiro lugar, dar aula sobre empatia. Em segundo, elaborar exercícios para desenvolver empatia. A terceira forma é levando as crianças para fazer trabalho filantrópico. ”

Wellington Nogueira (Doutores da Alegria): “Hoje estamos buscando muito o fácil ao invés do simples. O fácil é você arrumar uma solução e se desobrigar, o simples é você empacar, respirar e ver que você tem uma camada mais de escuta e de olhar que você pode desenvolver.”

Além dos especialistas convidados para a roda de conversa, também estiveram presentes diretores e coordenadores de institutos e fundações de educação, líderes de sindicatos e secretarias de educação, editores de veículos da mídia especializados, diretores e membros de comunidades escolares. O evento foi transmitido ao vivo para cerca de 1.160 pessoas de 229 cidades e 16 países.

Confira o evento na íntegra:

Confira as fotos do evento!

Evento Empatia

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