EEEP Alan Pinho Tabosa (CE)

EEEP Alan Pinho Tabosa (CE)

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A aprendizagem cooperativa contribuiu muito para a minha formação, para o meu crescimento pessoal. Eu me sinto hoje um ser mais empático, mais solidário e com uma disponibilidade incrível de querer ajudar o outro.”

Monica Mota
Estudante da EEEP Alan Pinho Tabosa

A Escola Estadual de Educação Profissional Alan Pinho Tabosa está situada no município de Pentecoste (CE) e atende 521 alunos de cinco municípios da região, predominantemente oriundos da zona rural. Em funcionamento desde 2012, a escola estabeleceu-se inicialmente como uma parceria entre a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), que se responsabiliza pela implantação da aprendizagem cooperativa em sala de aula e pela orientação e gestão pedagógica da escola.

Essa metodologia é definida como um conjunto de técnicas de ensino-aprendizagem em que os estudantes, liderados pelo professor, trabalham em pequenos grupos e ajudam-se mutuamente para resolver problemas e alcançar metas coletivas. A parceria entre a UFC e a Seduc estabeleceu-se devido a uma iniciativa inovadora de um programa de extensão da UFC denominado Programa de Educação em Células Cooperativas (Prece), protagonizado por estudantes universitários da região em que a escola está localizada.

Após a graduação, esses estudantes engajaram-se na organização da escola e tornaram-se gestores e professores da instituição, com o apoio da UFC e da Seduc. A escola funciona em período integral e, além das disciplinas da base comum e das disciplinas complementares – como Projeto de Vida, Mundo do Trabalho, Formação para a Cidadania e Projetos Interdisciplinares –, oferece disciplinas profissionais para os cursos de Agroindústria, Aquicultura, Informática e Química.

A escola também proporciona um curso acadêmico para estudantes que não desejam realizar cursos profissionalizantes. No sentido de estimular a autonomia intelectual dos alunos, há uma carga horária específica para que eles se organizem em grupos de estudo e possam se dedicar a assuntos de seu maior interesse. No turno da noite, os professores revezam-se, voluntariamente, para monitorar as atividades de Educação de Jovens e Adultos e de cinema e esporte (como futebol de salão e capoeira).

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1. Por que a Escola Alan Pinho Tabosa é uma Escola Transformadora?

A Escola Estadual de Educação Profissional Alan Pinho Tabosa traz em seu cerne os pressupostos do protagonismo e da autonomia intelectual dos estudantes como estratégia para gerar aprendizagem e os princípios da cooperação e da solidariedade, herdados da experiência impactante e inovadora do Prece.

A história desse programa inicia-se em 1994, na comunidade de Cipó, em Pentecoste. No início, eram apenas sete jovens fora da faixa etária escolar que passaram a estudar e a conviver numa velha casa de farinha, com condições bastante precárias. De forma solidária e cooperativa, contando com a ajuda da comunidade e do professor Manoel Andrade Neto, Fellow Ashoka, que estimulava o grupo aos fins de semana, os jovens superaram suas deficiências de aprendizagem e construíram uma história de sucesso na educação.

Em 1996, com a aprovação do primeiro aluno em primeiro lugar no curso de Pedagogia da UFC, o grupo atraiu novos estudantes da região. Essa forma de estudo, em que um cooperava com o outro e todos partilhavam o que sabiam, foi mostrando seus resultados, e outros estudantes também conseguiram ingressar na universidade. Uma vez lá, os jovens eram estimulados a retornar para suas comunidades com o objetivo de colaborar com seus colegas. Dezesseis anos depois, muitos dos egressos do Prece, já graduados em cursos de licenciatura, conhecem a aprendizagem cooperativa sistematizada através dos irmãos Roger e David Johnson, da Universidade de Minnesota (EUA), e propõem à Secretaria da Educação do Ceará implementar essa metodologia na Alan Pinho Tabosa, em cooperação com a UFC.

Os primeiros anos não foram fáceis, e a equipe enfrentou certa resistência política e até metodológica. Segundo o diretor da escola, Elton Luz, “as pessoas estranhavam que o professor, em sala de aula, não fosse o centro do processo de ensino-aprendizagem. Não entendiam que o educador seria ajudado por um grupo de estudantes, os coordenadores de células”.

O diretor ainda relata que, certa vez, recebeu a visita de representantes da Secretaria da Educação, que se queixaram do barulho durante as aulas. Ele explicou o excesso de ruídos em função da natureza das aulas: “Os alunos estão em grupos, trocando, compartilhando informações, auxiliando uns aos outros”. A escola entende que é um espaço para a formação de jovens protagonistas críticos e conscientes de seus deveres, capazes de atuar como agentes de transformação da realidade em que estão inseridos, ao mesmo tempo que se preparam para o mundo do trabalho e para a vida acadêmica de forma cooperativa e solidária.

2. Influência

Os princípios da cooperação e da solidariedade vivenciados na experiência do Prece, herdados e fortemente valorizados pela Alan Pinho Tabosa, têm possibilitado o desenvolvimento de várias iniciativas que vêm impactando a região do Vale do Rio Curu, especialmente na área educacional. Uma delas é a parceria solidária estabelecida entre a Alan Pinho Tabosa e outras duas escolas estaduais no município. A parceria tem como objetivo estimular a leitura e a produção textual nessas duas escolas por meio dos projetos Promotores Estudantis de Leitura e Revisores Solidários de Texto, em que estudantes e professores da Alan Pinho ajudam alunos a se desenvolverem nessa área.

O Estudante Cooperativo é outra iniciativa da escola que estimula a cooperação e a solidariedade na região. Nessa ação, os alunos egressos do Prece e da Alan Pinho, que já estão na universidade, juntam-se aos estudantes da escola e atendem, aos fins de semana, aproximadamente 250 crianças matriculadas no ensino fundamental, com o objetivo de dar oportunidades para que elas aprendam de forma cooperativa os conteúdos que estão estudando em suas escolas.  

A cultura do Prece e da escola de compartilhar o que se aprende e devolver o que se recebe é orgânica. Aquele que recebe uma oportunidade tem o compromisso ético de voltar e oferecê-la ao outro. A vivência desses princípios na prática tem transformado, nos últimos 22 anos, o perfil do jovem da região, que saía e não voltava mais ao sertão cearense.

“Antes do Prece, na década de 1980, os jovens saíam da região para inchar as periferias de Fortaleza, à procura de um subemprego. Hoje eles estão ampliando a visão, enxergando novas oportunidades e retornando às suas cidades para melhorá-las”, diz o diretor, Elton Luz.

Exemplo disso é a experiência da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel), uma instituição organizada por profissionais oriundos do Prece, que prestam serviços de consultoria às comunidades da região.

3. As práticas e as competências transformadoras

Todas as atividades e projetos executados na escola colaboram para que os estudantes sejam estimulados e habilitados a aprender em cooperação. Logo na primeira semana de aula, quando ingressam na escola, eles participam de um curso de Liderança Cooperativa e Solidária, em que estudam e vivenciam assuntos como empatia, interdependência positiva, interação promotora, conflitos interpessoais, protagonismo estudantil, autonomia intelectual, habilidades sociais, interação professor-estudante, comunicação verbal e não verbal, entre outros. Esse curso tem o objetivo de começar a desconstruir o paradigma do individualismo e da competição vivenciado pelos estudantes nos nove anos de escola tradicional e iniciá-los na nova jornada do protagonismo, da autonomia intelectual, da cooperação e da solidariedade.

No cotidiano da escola, os discentes trabalham em células de três componentes para garantir a heterogeneidade e a máxima interação entre eles. Os professores, apesar de poderem utilizar variadas técnicas da aprendizagem cooperativa, utilizam um modelo, que inclui: exposição inicial feita por eles (20% do tempo da aula); realização de tarefas específicas e individuais por cada estudante; execução de trabalho coletivo, com a construção de uma meta coletiva pela célula; fechamento da aula, liderado pelo professor; avaliação a ser realizada individualmente por cada estudante. Assim, em cada aula, os estudantes dividem o tempo em trabalhos individuais e coletivos, sem haver necessariamente a interferência direta do professor, que se propõe a atuar como um facilitador da aprendizagem.

Em cada célula, ao início de cada aula, os estudantes fazem um contrato de cooperação e dividem algumas funções entre si. Ao final do trabalho, realizam um processamento em grupo, momento em que refletem sobre como o trabalho foi feito. No sentido de estimular o protagonismo dos alunos e de facilitar o estabelecimento de uma parceria eficiente entre o professor e os estudantes, a escola criou a função do Coordenador de Células. Os educandos que desejam assumir essa função são preparados para coordenarem as atividades propostas pelo professor e liderarem o processo de cooperação entre seus pares. Nem todos os momentos de aprendizagem são liderados pelos professores em sala de aula, pois alguns estudantes, de forma autônoma, escolhem se organizar para estudar juntos sem a presença do professor, num espaço específico reservado pela escola para tal finalidade.

Essas células autônomas da aprendizagem cooperativa têm a liberdade de escolher o conteúdo que desejam estudar e, ao final de cada tempo, entregam um relatório para um professor que acompanha os alunos, sem interferir no desenvolvimento dessa atividade. Para estimular as habilidades cooperativas dos educandos, a escola utiliza uma sistemática de avaliação de aprendizagem que, além do desempenho acadêmico, também considera o desempenho cooperativo dos estudantes.

Levando em conta que a cooperação é uma semente que só germina satisfatoriamente num clima emocional adequado, a escola estimula o compartilhamento de histórias de vida entre todos os seus atores. Os estudantes, professores, gestores, funcionários e servidores são incentivados a contar suas histórias de vida uns aos outros. Essa prática, aliada à estratégia da aprendizagem cooperativa, tem estimulado o desenvolvimento da empatia e do espírito solidário nas relações interpessoais e a construção de relacionamentos positivos.

Confira uma matéria sobre a EEEP Alan Pinho Tabosa:

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